´Não posso errar. Não posso perder a oportunidade de ser diferente, inovador´

Alcides Kruschewsky
Maurício Maron

Os amigos que o conhecem mais intimamente têm uma opinião formada a respeito de Alcides Kruschewsky: a sinceridade do empresário sempre causou reações polarizadas.

Muitas vezes, ao lado (mais fácil) do que as pessoas gostariam de efetivamente ouvir. Outras, por mais polêmicas que pudessem parecer, decidiu optar por dizer o que efetivamente pensava. Mesmo que isso lhe custasse caro. Como muitas vezes custou.

No entanto, - reforçam os amigos mais próximos-, da mesma forma com que usa a transparência para defender suas ideias, Alcides não hesita em assumir as consequências dela.

Às vésperas dos 60 anos, Alcides volta à tona.

Desta vez com disposição de encarar o maior desafio político da sua vida: “quero ser prefeito”.

O empresário - ex-bancário e, na política, ocupando diversos cargos públicos - continua filiado ao PSB, mas lembra que terá até 6 meses antes do pleito para definir sua situação partidária. “Ou não, né. Por que se for confirmada a reforma da lei eleitoral e for permitida uma candidatura independente esta será uma possibilidade”, lembra.

Mais que ocupar a principal cadeira política de uma cidade próxima aos 500 anos, Alcides está disposto a mudar a forma de gestão e de fazer política também.

“Não estou mais preocupado com esses modelos, não. Todo mundo quer fazer as coisas da mesma forma de sempre e fica sempre falando que ninguém quer mudar nada. Isso precisa acabar”, afirma nesta entrevista concedida ao editor do JBO, jornalista Maurício Maron.

Ao aparecer numa pesquisa de intenção de voto, lembrado para ocupar o cargo, o empresário se anima. Nesta entrevista revela que está disposto a enfrentar o desafio, mudar os rumos da política local e, sobretudo, ser inovador na vida pública.

Trata-se de uma  entrevista, digamos... corajosa. Aliás, definiria  ela como mais um bate-papo sincero do que propriamente um momento de perguntas e respostas.  O resultado do bate-papo vale, portanto, ser lido até a última linha.

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Você foi um bom vereador?

Um determinado instituto de Ilhéus criou uma forma de avaliar a performance do vereador a partir do número de projetos que ele apresenta e se foram aprovados. E se o vereador estiver trabalhando contra o que pensa a maioria da câmara? Não aprova nada. Pior que o instituto acha que está fazendo um grande favor à sociedade, prestando um grande serviço à cidade. É uma avaliação equivocada! Quais são as funções do vereador? Eu sinto, por exemplo, que como vereador, eu dei uma grande contribuição quando passei por lá. Combativo, apresentei projeto contra o nepotismo duas vezes e em ambas o prefeito vetou. Fui um fiscal aguerrido, pesquisador, visitei o Tribunal de Contas (TCM) diversas vezes. O primeiro afastamento do então prefeito Valderico Reis foi a partir de uma fiscalização minha que resultou numa denúncia.

Como assim?

Eu denunciei que posto de gasolina para fornecer ao governo Valderico não podia ser um posto ligado a ele. Era dele. Valderico não foi afastado inicialmente por causa do Impeachment dele, não.  Foi uma ação da justiça. Nós ingressamos no Ministério Público e a juíza afastou Valderico.

"Rui (Costa) tem sido mais que governador. Ele tem atuado no cotidiano da cidade, fazendo tarefas que são tarefas da prefeitura. Se você subtrair da performance do governo de Ilhéus o que é feito pelo governo do estado, vai sobrar o que? Você acha que eu não vou perguntar à sociedade, se ela não está vendo o que acontece na cara?"

Na sua época não teve vereador preso...

... na minha época teve o mensalinho (pagamento de propina da Prefeitura a parlamentares, investigado pela justiça). Foi um processo complicado que, inclusive, levou pessoas a serem condenadas pela justiça. Teve vereador afastado das funções e que perdeu por oito anos os direitos de se candidatar.

Você se considera uma pessoa popular?

Alguns querem dizer que não sou popular, mas não dizem que o candomblé foi pra rua comigo. Querem dizer que não tomo cafezinho em latinha. E esse pessoal do candomblé é o que? Não é popular? É classe alta de Ilhéus? Não se sentem identificados comigo? De que forma se eu não sou do candomblé, sou cristão? Alguma coisa nos uniu e durante duas eleições, né? Eu deixei as portas abertas. Esse é um ponto. O segundo ponto é que eu procurei corresponder a esse pessoal e apresentei diversas vezes propostas de inclusão social. Eu criei o primeiro órgão de igualdade racial e de políticas da mulher na administração municipal, além de uma comissão no legislativo.

"O pequeno investidor, aquele que quer montar uma pequena loja e tá morando em outra cidade onde fez um pé-de-meia e agora que morar num lugar mais aprazível, ele vem avaliar o que a cidade oferece. É diferente do cara do Assaí. Quando ele vem, vem avaliar quais as possibilidades no negócio dar certo, do retorno financeiro. Mas ele não acompanha o investimento, não vem junto. O pequeno sim, ele vem com a família, vem morar. Quer saber se a neta ou o filho tem onde estudar, se precisar de transporte público que tipo vai encontrar, qual a assistência à saúde  com que pode contar... Então ele vem com o olhar tipo ´essa cidade me cabe, é boa pra viver.´".

Qual?

A Coordenação de Políticas de Igualdade Racial, Gênero e Direitos da Mulher e Tolerância Religiosa, também.  Criei uma outra coordenadoria para o oeste do município, uma patrulha para assistir aquela região,  dando apoio aos serviços necessários na zona oeste de Ilhéus, que é esquecida. Esse serviço foi desvirtuado por questões políticas, infelizmente.

Em que consistia essa patrulha?

Pedreiros, eletricistas, encanadores para uma necessidade de um posto de saúde, de uma escola, em Banco Central, Pimenteira e Inema, a fim que ficássemos deslocando o equipes para lá e perdendo, devido à distância, muito tempo e dinheiro, sem eficiência. Eles resolveriam lá. Mas o projeto foi desvirtuado e virou cabide de empregos. Nós fizemos um Plano Piloto de Manejo de Lixo em Inema que à época se mostrou eficiente... Você sabia que a população de Inema consome água bruta até hoje? Eu nunca tive o poder total em minha mão. A minha geração chegou, no máximo, à função de auxiliar de governos. Mas mesmo assim posso te dizer que consegui recursos aportados de 1,35 milhão de reais para a pavimentação do Marciano (região litorânea norte) e que muitos eventos foram realizados com captações minhas. Só para o Aleluia Ilhéus, que criei, captamos quase 2 milhões de reais em 2 anos. Tenho mágoa por termos perdido os recursos para pavimentar o Marciano. É o único trecho da orla de Ilhéus que não tem pavimentação. Mas a negligência dos governos municipais não permitiu a execução da obra e as emendas foram canceladas. O mesmo ocorreu com os recursos para construção da Praça dos Milagres e Rua dos Crentes, em Olivença, quando perdemos mais 290 mil reais. Hoje, o recurso que consegui  para a Vila Gastronômica do Banco da Vitória vai ser empregado pelo estado, mas depois de perdermos 300 mil reais. Quero aqui dizer que o prefeito Mário Alexandre  deveria ter me convidado para a assinatura da Ordem de Serviço de lá. Mas acho que o ciúme não permitiu. Isso foi deselegante. 

"(Ilhéus) Precisa confluir com Itabuna para o entendimento por que precisamos de soluções regionalizadas. O lixo. Você não pode ter uma solução para Ilhéus, outra pra Itabuna, mais uma para Uruçuca, Itajuípe e por aí vai... Não! Nós temos que pensar isso regionalmente, como um consórcio. Temos que promover a integração regional. Então Ilhéus só vai ocupar o seu espaço de liderança regional quando defender e prospectar projetos de interesse regional, de integração. Mas como, se a gente se incomoda quando o turista desce em Ilhéus e diz: " vou pra Itacaré?" Hoje a gente fica chateado. Mas a gente deveria estar comemorando. Por que o que tem que ser trabalhado é Ilhéus no contexto Costa do Cacau, todo mundo desejando que o turista venha para a região e que Ilhéus, como portal de entrada, faça seu papel de cidade líder, que abraça, comemora os resultados positivos regionais e mostra o caminho que devemos seguir."

Não será complicado demais romper com este modelo desenhado há muitos anos ou... talvez de sempre?

Não estou mais preocupado com esses modelos, não. Todo mundo quer fazer as coisas da mesma forma de sempre e fica sempre falando que ninguém quer mudar nada. Isso precisa acabar. Essa tese dos outros eu já fiz o tempo todo. A forma que os outros fazem política, eu também já fiz. Eu sei fazer também. Mas não me faz bem. Quero deixar uma marca diferente. E para a população tem que ser perguntado também: é isso que está aí que vocês querem? Qual é o critério que vai ser usado para a escolha de um nome para gerir esta cidade diante dos desafios e condições que nós temos pela frente? Vai escolher na simpatia, pela beleza? Ou quem tem sinal de competência e conhecimento sobre a máquina pública e propostas concretas e aplicáveis?

"Ao longo dos anos, mesmo quando se fala de grandes governadores, Ilhéus foi tratada recebendo presentinhos de cada gestão pra enganar, igual a gente faz com caipora." 

O que você acha da atuação do Governo do Estado na cidade?

Rui Costa faz um dos melhores governos para Ilhéus depois de décadas. Ao longo dos anos, mesmo quando se fala de grandes governadores, Ilhéus foi tratada recebendo presentinhos de cada gestão pra enganar, igual a gente faz com caipora. Poucas vezes nos deram obras estruturantes que mudassem a nossa realidade. Mas fizeram. Acontecia tão lentamente, que as transformações também aconteciam desta forma, lentas também. A gente não se ressentia tanto disso por que tínhamos uma economia altamente empregatícia devido à força da cacauicultura. Hoje precisamos de obras estruturantes para mudar nossa realidade, atrair investimentos e gerar empregos. Então neste aspecto Rui tem sido mais que governador. Ele tem atuado no cotidiano da cidade, fazendo tarefas que são da prefeitura. Se você subtrair da performance do governo de Ilhéus o que é feito pelo governo do estado, vai sobrar o quê? Você acha que eu não vou perguntar à sociedade se ela não está vendo o que acontece na frente dela?

"O governo (municipal) não é o pior da história. De jeito nenhum. Mas é insuficiente, e sei que é possível fazer melhor, utilizar melhor recursos. Tem muito desperdício, falta de objetividade com o que se faz com a máquina. Ninguém planeja primeiro para equilibrar as finanças e  colocar a máquina em condições de funcionar e dar uma resposta à sociedade. Sabe por quê? Por que pra funcionar bem, equilibrar contas, aumentar arrecadação, e dar condições de funcionamento adequado aos órgãos da máquina, primeiro é preciso investir, aplicar dinheiro no lugar e ações primárias corretamente, mas o imediatismo e falta de capacidade de planejar, não deixam."

Então o governo municipal, na sua opinião, é ruim.

O governo não é o pior da história. De jeito nenhum. É, inclusive, melhor do que o anterior. Mas é possível e necessário fazer melhor, utilizar melhor os recursos. Tem muito desperdício, obras refeitas, falta de objetividade com o que se faz com a máquina. Ninguém planeja primeiro para colocar a máquina em condições de funcionar e dar uma resposta à sociedade. Sabe porque? Por quer tem que investir, aplicar dinheiro, colocar cada órgão pra funcionar. Você sabia que para o município arrecadar mais ele primeiro precisa gastar para depois ter uma resposta da arrecadação? Repetindo: o governo não é o pior. Mas é possível fazer muito melhor.  As melhorias são tímidas. Tem falta de objetividade com o que se faz com a máquina. Fazer o que precisa dá trabalho e custa dinheiro. Mas é preciso fazer.

"Qual é o critério que vai ser usado para a escolha de um nome para gerir esta cidade diante dos desafios e condições que nós temos? Vai escolher na simpatia, na beleza? Ou quem tem sinal de competência e conhecimento sobre a máquina pública?"

Como você enxerga a chegada de projetos como Porto Sul, que não é unanimidade e há claramente um enfrentamento com representações ambientais?

Não vou me referir só ao Porto Sul. Primeiro que o nosso principal esteio econômico ele não tem sequer mais defensores. É a cacauicultura. Para não dizer que é um segmento que não tem voz, para não faltar ao respeito, as poucas vozes que ainda estão defendendo o direito da cacauicultura, eu vou dizer que estão quase sem voz. Temos uma vasta área de zona agrícola. Esse município é grande e hoje está ocioso, sem produzir. Então primeiro é preciso dar uma atenção a esta situação. Depois com estes investimentos que estão chegando, vamos ter um ambiente favorável. Isto é, se chegarem. Temos 10 anos nesta conversa. Espero que cheguem. São importantes e precisam se concretizar. Nós não podemos ficar no isolamento. Temos que ser representativos. Buscar representar a voz da região. É por isso que as nossas lideranças não conseguem êxito. Ilhéus deixou de exercer o seu papel de liderança. Precisa confluir com Itabuna para o entendimento por que precisamos de soluções regionalizadas. O lixo. Você não pode ter uma solução para Ilhéus, outra pra Itabuna, mais uma para Uruçuca, Itajuípe e por aí vai... Não! Nós temos que pensar isso regionalmente. Temos que promover a integração regional. Então Ilhéus só vai ocupar o seu espaço de liderança regional quando defender e prospectar projetos de interesse regional, de integração. Mas como se a gente se incomoda quando o turista desce em Ilhéus e diz vou pra Itacaré? Hoje a gente fica chateado. Mas a gente deveria estar comemorando. Por que o que tem que ser trabalhado é Ilhéus no contexto ´Costa do Cacau´, todo mundo desejando que o turista venha para a região e Ilhéus como portal de entrada faça seu papel de cidade líder, que abraça e mostra seu caminho.

A cada levantamento, o que se vê é Ilhéus distante esta liderança. A cidade cai dia após dia na lista das mais influentes a Bahia. Ilhéus não é mais líder regional. Não está na hora de chegar ao entendimento e reconhecer isso e saber qual é, de fato, o seu tamanho e importância?

Ilhéus é um pouco maior do que se pensa que somos. Porque se esta cidade não tivesse esse valor tão grande como estaria sobrevivendo ainda forte, atraente, se não fizemos a nossa parte como deveríamos? Ilhéus não pode abrir mão de criatividade. A maneira que a gente encara a economia – desculpe, tenho um pezinho nisso, sou um financista formado no Banco do Brasil, minha faculdade – sempre fica faltando um pedaço. Ficamos preocupados, por exemplo, em atrair sempre grandes investimentos. E não tá errado. Mas não podemos desprezar o pequeno e médio investidor, aquele que se mistura com a população. Quem investe num Assaí em Ilhéus manda dinheiro, manda diretores e gera emprego na cidade. Mas o pequeno investidor, aquele que quer montar uma pequena loja e tá morando em outra cidade onde fez um pé-de-meia e agora quer morar num lugar mais aprazível, ele vem avaliar o que a cidade oferece. É diferente do cara do Assaí. Quando ele vem, vem avaliar quais as possibilidades do negócio dar certo, do retorno financeiro. Mas ele não vem junto o investimento. O pequeno sim, ele vem com a família, vem morar. Quer saber se a neta ou o filho tem onde estudar, se precisar de transporte público que tipo vai encontrar, que tipo de assistência à saúde ele pode contar... Então ele vem com o olhar tipo “essa cidade me cabe?”. Alguém pensa nessa cidade numa política de atrair pessoas que têm independência e renda?

"Alguns querem dizer que não sou popular, mas não dizem que o candomblé foi pra rua comigo. Querem dizer que não tomo cafezinho em latinha. E esse pessoal do candomblé é o quê? Não é popular? É classe alta de Ilhéus? Não se sentem identificados comigo? De que forma se eu não sou do candomblé, sou cristão?"

Como você pretende convencer o eleitorado de que é você é o cara das boas ideias para a cidade?

O nosso governo pode ser inovador. Eu já estou tentando isso. Meu foco será urbanismo e turismo. Reorganizei a Avenida no último verão com secretário do turismo e todos aprovaram. Eu não posso errar. Não posso perder as oportunidades. Estar falando com você hoje é uma oportunidade onde não posso errar, por exemplo. Eu não tenho os recursos tradicionais que os meus concorrentes têm. Aquele grupo político "unidos venceremos". Eu tenho manifestações, pessoas que estão comigo no processo e é com essas pessoas que vou contar. Agora... acredito na minha estratégia. Eu decidi ser afirmativo. Decidi que não ia mais dizer que gostaria ter uma chance. Eu precisava confirmar e dizer (se emociona, leva alguns segundos em silêncio)... quero ser prefeito, não é para realizar meu sonho. Não vou sair frustrado, não, se não conseguir ser candidato. Quero oferecer à minha cidade minhas qualidades, o zêlo, o esmero com que costumo fazer as coisas, minha dedicação e o bom gosto que dizem que tenho, e sem o que não se faz turismo. Mas quero ser prefeito com sua ajuda. Eu vou lutar por isso.